Fui de Banda

Então foi assim:

Eu precisava, por atribuições do trabalho, filmar A Banda, bloco de sujos que percorre ruas de Macapá na terça-feira de Carnaval. Cinco minutos depois que pus o pé fora de casa as nuvens resolvem se jogar lá de cima em forma de gotas que insistiam em molhar tudo em que tocavam assim como Midas transformava em ouro o que pegava ou Medusa que em pedra transmutava tudo que lhe olhasse nos olhos. Bem, desses três, eu prefiro a chuva, mesmo ela sendo extremamente venenosa para minha máquina fotográfica e filmadora. Mais e aí? Filmar em situações adversas é um interessante desafio a criatividade e lá fui eu.

Pessoas chegando à concentração, carros de som sendo preparados para fazer o que seu nome insinua e ela, a chuva, dando seu recado. Eis que surge Mister M. Ele, todo alinhado em um preto impecável e com sua máscara que lhe conferia mistério na medida exata, apresentava para os demais sujos, eu entre eles, um truque impressionante de tão simples: gestos amplos dele chamavam atenção para o inacreditável. Ele fazia questão de mostrar que não tinha nada escondido em suas mãos, nem nos antebraços e isso tornava o truque ainda mais inusitado. Ele segurava um leque fechado e ao contar , ciom os dedos, até três, soltava um dos lados do leque para baixo e ele, o leque, obviamente, se abria, seguido de um gesto do Mister M. que, bem lido, dizia: “eis minha inédita mágica, digna de aplausos, aplaudam!”. E tome inúmeras vezes palmas.

                                                                                                           1,2,3...

Encontrei esse misterioso folião em vários trechos da banda, já que eu e meus amigos Aog Rocha e Mauro Fotos pegávamos atalhos para ter a oportunidade de ângulos interessantes para nossas imagens. E ,vez por outra, lá estava Mister M. repetindo seu famigerado único truque em todo o percurso dA Banda e sempre sendo consideravelmente aplaudido. Em certo ponto, ele vez sua miss en scene em frente a um quarteto de policiais militares que, não resistindo ao inusitado daquela cena, deixaram escapar um canto de sorriso, que me pareceu na verdade uma gigante gargalhada interna.

E assim observei Mister M. e fiquei pensando quem seria aquela figura, de onde vinha sua criatividade e irreverência aliada a uma simplicidade complexa? Será que eu o conhecia? Aí veio a vontade de pedir pra ele tirar a máscara, mas logo meu bom senso disse: “Dá um tempo, deixa o cara, deixa aí o mistério e o não-dito”.

E, numa tietagem quase gay, fui até Mister M. e pedi pra fazer uma foto ao seu lado.  O registro é de Aog Rocha, que mais tarde foi pra parada de ônibus sozinho e se deu muito bem. Digna de nota também foi a derrapada ousada de Mauro Fotos em uma casca de manga para nossa felicidade. Se não fosse a avantajada barriga do moço a queda teria machucado. E assim A Banda passou, muito tranquila, bonita, irreverente e criativa, exceto pelos figurões da política que, com suas caras de “olhem-me-vejam-eu-estou-em-um-bloco-de-sujos-eu-sou-do-povo”, estavam por lá, apesar de não serem de lá.