terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Passarinho

Dia normal, banal, convencional. Salvo pelo passarinho que entrou no “aquário” da loja pelo defectivo buraco redondo que fica logo abaixo da palavra “caixa” e por onde os únicos passarinhos que costumavam entrar eram os beija-flores das defuntas notas de um real... Entrou fácil mas não encontrou a saída com a mesma desenvoltura. E tome cabeçadas suicidas na parede de vidro. Depois que a “tontera” passava lá ia ele outra vez alçar vôo rumo as árvores verdejantes que a parede de vidro só permitia ver, mas jamais alcançar.

E assim o passarinho de ontem fez por quatro ou cinco vezes. Assim que os clientes deram folga tentei pegá-lo. Ele me pareceu usar suas últimas forças para fugir de mim ou do que julgava ser eu. Até que seus míseros pulmões (será que eles também têm dois?) não lhe permitiram mais o esforço e ele convalesceu, prostando-se derrotado e indefeso diante dos meus pés.
 
Isso é ou não é pavor?

Peguei-o. E ele arregalou os olhos, vi em suas pupilas ofegantes o que no universo dos homens poderia ser chamado de pavor e no universo dos pássaros sabe-se lá de quê. Fi-lo voar, não o quis, ou não o conseguiu. Molhei-lhe a cabeça, assustou-se. Afoguei-lhe o bico, bebeu e espertou-se. Empulerei-o no celim de Izabela (minha bicicleta) e ele voou. Mas a reflexão de seu exemplo ficou em terra e me incomoda até agora quando já deveria estar dormindo.

Compartilho:

“Quais serão as paredes de vidro nas quais tenho batido minha cabeça diariamente?”

“Que energia ou ser tenta me ajudar e eu por não compreendê-lo(a) aterrorizo-me assim como aquele passarinho quando peguei-o para ajudá-lo?”

“Será que era isso que Mário Quintana quis dizer quando cunhou o célebre trocadilho: ‘Todos esses que aí estão atravancando meu caminho, eles passarão e eu passarinho?’ ”